cirandas

Reza a lenda que pelas bandas daqui e acolá um homem vivia só, a caminhar pelas estradas. Atendia por muitos nomes e sua idade ninguém saberia dizer, pois seu rosto também parecia ter muitas faces. 
Senhor de si. Feitor das suas próprias regras. Com a vida sempre a pulsar na boca do estômago. 
Ele caminha assim, como quem não quer nada, tiquetaqueando ao sabor do vento. Leva consigo o compasso das horas, a medida dos mundos, o ritmo inabalável dos anos. 

Conta-se que se você conseguir olhar dentro dos seus olhos, ele te conta um segredo. 

Mas, não repare nos seus pés calejados. Não se engane com seus olhinhos repletos de candura. Em hipótese nenhuma lhe confidencie seus medos. Ele pode ludibriar você. 

É que assim como eu e você, ele sabe que a vida é uma caminhada. E ele é só mais um traseunte à cartear consigo, buscando o destino ao acaso. 

Ele também sucumbe à vaidade de ser quem é: alguém que não sabe viver à margem de si. 
Ele também não sabe se o relógio pontua o que é cedo ou tarde demais. Vive no intervalo entre o que "é" e o que pode-vir-a-ser. 
Assim como eu e você, ele também corre pra fugir da estagnação da própria existência. 
Quando é que devemos insistir no que temos ou nos permitir o outro, o novo? 
Ele também não sabe dizer. Então não o culpe. 

(...)


Reza a lenda que se você observar com cuidado vai descobrir que esse moço aí é o Tempo e se você olhá-lo no fundo dos olhos com carinho, ele te tira pra dançar numa tarde de domingo. 

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