alguém como eu e alguém como você

Deixei sem querer que as horas me arrastassem, que os pensamentos me invadissem e me induzissem para perto de ti mais uma vez... Porque lembrança é planta que nasce sem ser semeada e a noite reacende o que há muito já queimou. É que ainda me falta coragem para aterrissar os pés no chão e essa saudade só faz condenar a polidez dos meus erros. Então eu me puno com o seu perdão, porque o meu castigo é exatamente este, a impunidade do teu olhar. Eu não temo o abandono ou as faltas, muito menos o desconhecido. O que me assusta é esse vão de motivos, essa coletânea de culpas do que eu não posso mais querer censuradas pelo meu ego. Me assusta esse desencanto que existe debaixo de todo faz-de-conta. Me assusta esse contentar descartável e essa sensação de sentir frio e não conseguir estremecer. Me assusta a demora, a permanência, esse instinto em dosar um amor que nunca existiu e conviver com todos esses fantasmas da tua presença. Me assusta a implosão do teu peito e o frio na barriga que me dá nessa ânsia pela recusa da resposta a espera do culpado ideal para um erro seguro. O fruto doce de uma raiz amarga... É só que o veneno, em pequenas doses também é salutar e eu não quero mais te encontrar toda vez que eu pensar em perdas. Então por favor, não confunda a minha “independência” como indiferença.

carnaval de cinzas

Sei lá. Talvez ainda seja cedo demais para dizer apesar de tudo, mesmo com tantos atrasos ainda para vir além de. Ainda reluto muito em aceitar determinadas coisas, outras prefiro esquecer ou pelo menos fingir que nunca fizeram parte de mim. Cansei de não extrair nada dos meus erros além da inútil vontade de sair mais cedo e voltar correndo para casa. Preciso reaprender a lidar com os meus subterfúgios, com essa vozinha claustrofóbica que insiste gritar dentro de mim toda vez que eu resolvo me calar... Saber que o que bate aqui dentro é coração e não um martelo... É que é tão mais fácil quando o inimigo não corre dentro de você... E eu fechei a porta para tantas escolhas. Não quero mais me arrepender. Rasguei seu rascunho de tudo o que eu trago camuflado no peito. De tudo o que eu não posso mais querer. E eu não quero mais me afastar. Cansei de viver tão longe e talvez nada disso valha mais a pena. Então eu me calo. Porque nem as folhas em branco me saciam mais. Até as palavras de mim, se envergonham (...)