gata-borralheira

Eu sempre fui meio nômade. Ou talvez, pra ser mais sincera, eu sempre vivi a esmo demais pra me amarrar a alguma coisa que pudesse por em risco a minha independência. No começo, era só mais uma forma de correr contra o tempo, mas aos poucos a corrida acabou se transformando numa fuga e a fuga no meu próprio cárcere. O fato é que nunca tive muito medo de abandonar tudo e ter que ir embora; e gradativamente isso fez com que eu me tornasse escrava da minha própria liberdade. Porque o meu destino é o acaso, o meu impulso é a raiva e os meus sonhos viram poeira antes mesmo que eu consiga transcrevê-los. Não sei ser discreta, simpática, muito menos espontânea e o melhor conselho que alguém pode me dar é um abraço. Às vezes confundo confiança com dependência e costumava ver o amor como uma espécie de cabo-de-guerra onde eu devia fazer por merecer até a lama... É que pra ser mais exata, a minha estabilidade é a corda bamba e o meu limite é justamente esse, as reticências (..)

veneno orgânico

Sei lá. De duas, uma: ou eu fui muito fudida na minha outra vida, ou eu casualmente nasci na espécie errada. É sério. É como se às vezes, eu meio que parasse de ser pela metade. Entende? E que Raul Seixas não me ouça, mas essa coisa de “metamorfose ambulante” em certos dias me desgasta tanto, que eu acabo parecendo mais um estepe de mim mesma, no melhor estilo da substituta que entra em cena quando os outros pneus furam. É um egoísmo meio estranho, mas às vezes eu só queria.. sei lá, me sentir eu mesma sem ter que me dividir com as outras caras que o espelho não mostra. Você entende? Porque eu até consigo ser mil, mas no final é só a velha e amarga sensação de ser só mais uma. Uma caloura um pouco boba e infantil que quase nunca sabe ao certo como é ser humana.

até que a vela queimou-se toda..

Eu procurei a forma mais certa de te convencer, mas as minhas explicações soam tão embaralhadas e difusas quanto às gotas de chuva que embaçam a janela do meu quarto (...) Eu achei que não fosse preciso desmentir tudo, mas é quase fácil demais cair em tentação quando não há mais mistérios. Eu só quis brincar um pouco de passado e achar uma saída pra nós dois nesse ritmo bom de ilusões adocicadas. Entende? É que às vezes, a gente precisa de um descanso da vida real e eu sou uma boa desculpa pra você escapar da realidade... Vontade de romper, eu também tive. Mas lá no fundo, alguma coisa me disse que tudo bem, eu podia ficar se eu quisesse. E foi isso mesmo que eu quis: ficar. Porque o seu sorriso é o meu melhor esconderijo. E eu deixei você livre para brincar com a minha liberdade. Eu te entreguei a minha alma e você quis o meu coração. Eu só queria que você entendesse que isso da gente sentir orgulho um do outro nunca fez muita diferença pra mim. Entende? Porque no final só sobra aquele silêncio constrangido e esse nó que comprime o peito e estrangula a expectativa de “não poder evitar”. E eu sinceramente não vou conviver com esses rastros mal feitos e acusadores. Mas não se preocupe. É uma pena o fato de para você eu não ter sido nada além de um objeto na sua vã coleção de erros e desgostos. Mas não se preocupe. Eu tenho uma vida pra viver e nós temos tempo de sobra pra gastar. Prazer, o meu mais novo nome é desapego.

outros quaisquer

Fui deitar tarde, com os pensamentos ainda perdidos nessa maré de ondas imprecisas que se arrebentam ora grosseiras, ora estranhamente ariscas aqui dentro. E não sei se foi o sono, a infâmia da noite ou até mesmo insanidade, mas é que de repente bateu uma insegurança, sabe. Um medo de.. sei lá, apagar a luz e ver os meus fantasmas ali fazendo sentinela pras minhas esquisitices... É que agora eu também ando cheia de desculpas para não correr o risco de naufragar em certas respostas. E tudo é uma fuga, inclusive os meus apelos destrambelhados e induzidos de pavoneamento. E eu nessa, de devorar a vida com cuidado e viver como se estivesse sendo constantemente vigiada; me agarrando nessas âncoras vulneráveis para distrair a minha ansiedade compulsiva e fazer dessas impossibilidades um novo motivo de espera para poder habitar o submundo que eu carrego debaixo do peito. E é engraçado a forma como tudo isso reflete para mim e em mim. E o problema não é nem O QUE acontece, mas COMO acontece. Porque agora tudo isso volta, se acomoda e aos poucos, mesmo sem muito o que lembrar, vai preenchendo cada brechinha que a gente encontra para poder fazer de tudo um pouquinho mais. E eu me esforço para que a raiva não vire repulsa e a ilusão não se transforme nessa quase preguiça de vida que me bate de vez em sempre... É só que sei lá, a piada anda perdendo a graça. E eu palhaça aqui, tentando domar um coração contorcionista que já nem cabe mais em mim (..)

alguém como eu e alguém como você

Deixei sem querer que as horas me arrastassem, que os pensamentos me invadissem e me induzissem para perto de ti mais uma vez... Porque lembrança é planta que nasce sem ser semeada e a noite reacende o que há muito já queimou. É que ainda me falta coragem para aterrissar os pés no chão e essa saudade só faz condenar a polidez dos meus erros. Então eu me puno com o seu perdão, porque o meu castigo é exatamente este, a impunidade do teu olhar. Eu não temo o abandono ou as faltas, muito menos o desconhecido. O que me assusta é esse vão de motivos, essa coletânea de culpas do que eu não posso mais querer censuradas pelo meu ego. Me assusta esse desencanto que existe debaixo de todo faz-de-conta. Me assusta esse contentar descartável e essa sensação de sentir frio e não conseguir estremecer. Me assusta a demora, a permanência, esse instinto em dosar um amor que nunca existiu e conviver com todos esses fantasmas da tua presença. Me assusta a implosão do teu peito e o frio na barriga que me dá nessa ânsia pela recusa da resposta a espera do culpado ideal para um erro seguro. O fruto doce de uma raiz amarga... É só que o veneno, em pequenas doses também é salutar e eu não quero mais te encontrar toda vez que eu pensar em perdas. Então por favor, não confunda a minha “independência” como indiferença.

carnaval de cinzas

Sei lá. Talvez ainda seja cedo demais para dizer apesar de tudo, mesmo com tantos atrasos ainda para vir além de. Ainda reluto muito em aceitar determinadas coisas, outras prefiro esquecer ou pelo menos fingir que nunca fizeram parte de mim. Cansei de não extrair nada dos meus erros além da inútil vontade de sair mais cedo e voltar correndo para casa. Preciso reaprender a lidar com os meus subterfúgios, com essa vozinha claustrofóbica que insiste gritar dentro de mim toda vez que eu resolvo me calar... Saber que o que bate aqui dentro é coração e não um martelo... É que é tão mais fácil quando o inimigo não corre dentro de você... E eu fechei a porta para tantas escolhas. Não quero mais me arrepender. Rasguei seu rascunho de tudo o que eu trago camuflado no peito. De tudo o que eu não posso mais querer. E eu não quero mais me afastar. Cansei de viver tão longe e talvez nada disso valha mais a pena. Então eu me calo. Porque nem as folhas em branco me saciam mais. Até as palavras de mim, se envergonham (...)

âncoras

É só que, eu prefiro acreditar na capacidade das pessoas em amar do que no próprio amor em si.
Isso tudo tem um "quê" exagerado de idealismo e ilusão que sinceramente, não me interessam mais.

flor de estufa

Longe de tudo a ilusão é ousadia. A cobra sem veneno que me oferece a maçã do pecado e que eu como com gula e desespero, porque sei que essa é também uma forma de me redimir. Desse jeito meio esquerdo e errado mesmo. De tudo que eu vivo nos intervalos de atropelos que me aparto para esculpir toda essa dúvida. E de tanto que me sugo, toda essa sujeira de mim acaba por inflamar numa raiva surda e impotente. E eu quase havia me esquecido o que é sentir isso. Primeiro o se entregar pela metade. E as reincidências. O refazer de contrato com a dor e então, as recaídas: as bocas de lobo do mundo que me cospem um formigueiro de ausências e acúmulos. E todo esse desperdício de economias. Uma fome que dá uma vontade louca de nunca mais comer. E um medo de que gostem mesmo da gente. Porque de repente viver me parece ridiculamente fácil. Então eu troco o meu trem descarrilhado por esse carrossel de cavalos velhos que nunca se cansam da corrida. E ninguém mais precisa saber que eu chorei ontem a noite... quando dou por mim estou novamente desfazendo as malas. Traindo a minha puerícia castigada por esses abutres que me riem com suas bocas desdentadas. E acredito por pura precaução, visto meus farrapos de esperança só para não sentir o peso que sucumbe nos joelhos de vez em sempre. E escalo de novo e mais uma vez os meus desmoronamentos com a pressa lenta do “ainda dá tempo”. Tempo que nunca é suficiente apesar de toda essa ociosidade em abundância. Apesar de toda essa inerência ativa que ladra meus becos com olhos míopes de quem quer revanche. Muito que me furta apenas as esmolas e recusa tudo de bom que eu tenho para oferecer. Que violenta a minha própria vontade e que por pouco eu não cedo e quase me atraso. Sei la. Viver é depender de tanta inutilidade. E é muito mais fácil ser feliz quando se é ignorante. Mas felicidade não é só a distração da ferida. E eu conheço cada arranhão que trago no peito.
Então não conte os dias para voltar. Certas fugas não permitem despedidas. E se puder, me manda uma noticia boa...

um nunca acabar de.

É só que hoje, eu entreguei a minha paz para as reticências (...)

robôs que sangram

A ultima palavra. E ainda assim eu procurei qualquer desculpa mais convincente, mesmo com tantos motivos e evasivas para não imergir no abismo intocável de rastros malfeitos que é o meu coração encharcado de bile e desassombro nenhum.. E então eu me escondo debaixo da mesa para comer as migalhas invalidadas que discretamente me despencam ralo a baixo, com a mendicância e a ousadia e toda essa gula dessas rebarbas de desespero que me dá essa cólica que eu sinto em viver. E eu continuo tateando esse formigueiro no estômago com uma curiosidade quase infantil e desenfreada. Porque o meu orgulho é totalmente solúvel em raiva. E a minha raiva é totalmente anestésica a esses heróis antagônicos e a esses venenos que a gente consegue equilibrar com um pouquinho de dor. Com o padecimento e a concessão ainda que contrárias, de quem se espreguiça para morte. E que eu vomito para dentro de mim mesma com o refluxo e a indigência de quem revida a ressaca descarga abaixo só para poder expulsar o que é nosso para perto desse sopro estragado que jorra e me aviva querendo se vingar. Como se eu nunca tivesse sofrido ou usado essas cicatrizes antes como muletas para me municiar desse carrasco que é o mundo. E é só me distrair que quase escorrego no meu próprio sangue..

sufrágil de plástico

Talvez eu tenha mais para dizer do que as palavras me permitam, mas não quero lamentar nada nem tampouco descobrir (in)limitações perdidas enquanto escrevo... São dias esfumaçados e quase ausentes, passo mais tempo fora de órbita do que me seria permitido e quase não me dou conta. Voltar para casa ainda me soa seguro e garantido, mesmo que a cada dia o caminho de retorno pareça ainda mais extenso do que me foi no dia anterior. E é com gula que me recrimino, com a ausência e o maldito medo de ir além dos olhos. E revido essa ânsia e esse demônio de auréolas que me rasga o íntimo para me compensar na urgência que vivo e no desuso em que espero o não-chegar. Isso tudo que quase chega a ser alarme, mas se parece mesmo é com alegria. Essa suspensão desconfortável e todas as separações provisórias. A excelência dos riscos. A boca ultrajada do céu e do inferno. E essa mixórdia de sentimentos e sensações mnemônicas que me postergam e me antecedem, como o rato ofendido que atrevidamente me cospe na cara a chaminé que me habita debaixo do peito... E são os detritos que sagram os vencedores dessa vez. E eu me lambuzo toda na imundície disso tudo para me purificar... Então me abasteço desse pedaço de passado aplacado para pendurar outras dores escondidas, num deixar-se ir de sonhos instantâneos e despedidas extensivas. E me esqueço um pouco do quanto é insano e doentio tudo isso e como inevitavelmente essas coisas acabam conseguindo vencer a resistência do ar para me fazer sair do chão toda vez que eu finjo não ver. Até eu, anjo de asas tortas que mesmo depois de tanto tempo ainda poupo um coração que mais parece um campo minado em guerra. Eu, que de repente vivo esburacada de tantos vãos que me abro para poder ser mais um pouquinho. E crio tanta coisa para me consentir invadida que quando a chuva passa meus arco-íris por fim renascem das cinzas e o dia finalmente muda de cor. E pensar que nada mais disso me importa. Porque somos todos feitos de defeitos. Até eu, gata borralheira sem encanto, que só vou lembrar de sonhar quando enfim já é meia noite e a madrugada já se encarregou de transformar meus gritos internos em ruídos surdos pro dia poder nascer e eu passar a existir outra vez.

umbilical

Não tenho muito que dizer, eu acho. As coisas continuam iguais. O velho e miserável desfilar de programação social. E qualquer motivo é pretexto. Qualquer motivo é consolo. E eu só quero que tudo isso acabe logo para que eu possa desistir de tudo, poder ir embora logo e voltar para casa de uma vez por todas. Voltar pros meus vãozinhos e para toda aquela obsessão de continuar a esperar o que nunca vai vir. E voltar chega a ser tão arriscado quanto foi a ida. E eu dizendo para mim mesma que tudo bem, num conformismo barato de quem finge que não sabe, mas que toda hora vai lá espiar para ver se é mesmo verdade. Porque já foi. E Sempre vai ser assim. Porque as janelas continuam como antes: bloqueadas. E me resguardam, apesar do desespero e a necessidade em que precisam ser abertas. E tudo para quê? Para a gente terminar caindo na própria armadilha... É só que antes, eu costumava ser aquela que recebia todas as recompensas por bom comportamento e hoje, hoje eu só me pergunto em qual espelho foi que aquela lá ficou perdida (...)

pois bem

Não durmo há dias e tenho a sensação esquisita de estar morrendo de sono mesmo quando estou dormindo. As horas se agarram nos ponteiros e quase saltam do relógio, insaciáveis, prontas para me devorar. E eu já nem sei mais o que é efeito do sono e o que foi -e é- realmente sonho. Os dias parecem se dividir e com eles eu me divido também. Me divido em tantas e no final termino sendo só mais uma, qualquer uma. Termino entregue a mim mesma, refém do meu próprio crime. Cúmplice da minha própria culpa. É que de repente, isso de não-poder-também me fez tão mais pequena e exposta pro bueiro que é isso tudo entende? E tudo se esgota, tudo pede pelo fim. E eu termino tão mais vulnerável do que isso não me permite ser. E sabe o que é pior? Não são as circunstâncias, as mentiras e todo aquele teatro barato. O pior nisso tudo é conseguir sair ilesa. E essa impunidade ofende mais do que agride. É uma dor superficial. Incomoda, mas não machuca. Mas no fundo, lá no fundo eu sabia que isso ia acabar acontecendo, sempre soube. Eu que sempre pareci tão óbvia e agora ando cheia de farpas (...) E me pego aqui tão sozinha, escondida na madrugada, descendo as escadas feito uma fugitiva para ir chorar com o meu cachorro feito uma criança assustada que precisa do ursinho pra noite se fazer mais amena. E o meu problema, está justamente em querer olhar o que o medo me guarda debaixo da cama (...)

permanência inconstante

Essa não é mais uma das minhas inúmeras e indefesas cartas de despedidas ou novas tentativas frustradas de recomeços que se estendem para folhas em branco. A verdade é que nem eu mesma sei por que ainda me sujeito a comprometer-me com palavras inacabadas e ensaios improvisados de abdicar pensamentos soltos. É que travestidos assim, entre linhas mal escritas e incógnitas mal resolvidas, os problemas chegam tão perto de um talvez-não-seja-mesmo que a minha vida ganha um amargo-doce que eu quase tenho vontade de vivê-la algum dia... E eu ainda tenho tanta coisa não dita que preciso dizer que me falta apatia e um dicionário inteiro para eu me virar do avesso e não dizer de novo as mesmas coisas de antes. Porque de repente eu sou só o que restou de ontem. Eu que adoro aparecer e estou sempre tão disponível ao anonimato. E nem percebo que não cheguei a ser metade do que eu ainda tento não transparecer. Eu, imaculada errante que sou pássaro solto e me contento com a liberdade das minhas próprias grades. E mesmo que pareça estupidez, luto para aceitar a tempo. Aquele tempo, o dos olhares cegos, das ameaças rejeitadas e todo aquele confessar de pecados inocentes que eu nem ao menos me permitia esconder. Porque o amor, terminou engasgado, os castelos se esfarelaram e a madrugada terminou ofuscando o fulgor da noite, entristecendo o que um dia, foi também sorriso. E eu nem me permito afundar o pé nessa dor para chorar, porque quando finjo que me esqueço mal percebo que acabei de me lembrar. Mas não se preocupem, não fico por muito tempo. Às vezes demoro um pouco mais, mas sempre acabo voltando para o devido lugar que me foi designado.

sábado

Perdi a conta de quantas vezes tentei começar isso e mais alguns outros rabiscos agora à noite. Talvez um pouco de sono e essa música de letra repetitiva não ajudem muito. Ou talvez seja só eu mesma em sintonia errada com as palavras e todo o mais. Mais que ainda acaba sendo pouco perto de todo o resto que ainda está por vir. E tudo na mesma. E nem por isso ainda iguais. São dias não-ditos, de palavras repetidas e horizontes mesquinhos. Esmalte descascado, livros lidos pela metade e aquela sensação azeda e desoladora de desistência, do se entregar pelo jeito errado (...) E os cinco minutinhos a mais de manhã vão se estendendo, assim como os meus limites que já são quase elásticos. E coisas que deveriam ser importantes vão ficando à margem dos problemas. E esse acúmulo que invariavelmente a gente cria, acaba sendo também a aceitação da não-mudança. E eu aqui, debruçada num “amanhã eu conserto” que nunca chega, nunca passa. Esquecida atrás dos fones de ouvido com aquela cara-de-pau de adulto velho que fura fila em parque de diversão. Vivendo um rascunho de uma realidade que eu própria inventei. Como uma intrusa, na minha própria vida.

Em outras cores

Já até sei o que você vai dizer. Vai acender a luz, me chamar de irresponsável, brigar pela quantidade excessiva de café que eu venho tomando e criticar a situação pós-nuclear do meu quarto. E eu nem ligo, eu gosto assim. Deixo essa zona só para você vir e fazer aquela cara de implicar comigo, enquanto eu morro de rir da sua tentativa frustrada de me fazer te levar a sério. E eu me pego aqui, rindo sozinha lembrando disso e olhando pro meu esmalte descascado e pensando em como você também odiava isso. Então eu aumento o volume mais um pouco só para não ter que ouvir cada pulo grotesco que o meu coração dá toda vez que a maldita janelinha sobe e eu penso que é você voltando para dizer que esqueceu de me dar boa noite. É que bateu uma saudade sabe, saudade de quando a gente vivia aquele absurdo da impossibilidade, esperando o telefone tocar para dividir o pranto risonho e devolver pro mundo o que eu não podia te dar. Daí que eu entendo o que você queria dizer fazendo aquelas coisas. A gente se agride só pra ter pelo que lutar. Algo em nós escolheu assim. E pensar que a gente correu tanto. Corremos tanto que acabamos chegando atrasados demais. E hoje vivemos assim, reféns dos rabiscos do nosso próprio amanhã. É, eu ando cansada. Cansada e confusa, por isso finjo que não me importo. Para não doer tanto como doeria se não fosse real. Acaba sendo muito mais cômodo e fácil renegar tudo e passar mais tempo do lado de fora, você entende? Sei que eu deveria me preocupar mais ao invés de admitir que você ta cansado de saber as coisas e pa. Me dá só um tempo. Eu só quero voltar logo para casa, pros meus pedaços anexados, meus rascunhos mal escritos e todas aquelas futilidades rotineiras e casuais que me fazem desgastantemente mais feliz. Daí a gente se encontra com calma. Preguiça ta impregnando tudo aqui dentro e os velhos planos vão aos poucos se desfazendo para logo mais se reestruturarem de novo. Meu ioga ficou na vontade, a tinta de cabelo nem saiu da embalagem e o meu guarda-roupa assim como o meu coração continua sufocantemente bagunçado. Mais eu juro que um dia eu arrumo isso tudo. Você vai ver. Porque o nosso limite é esse. As reticências. Você se ocupa com o meu desespero enquanto eu me empanturro satisfeita com a tua obsessão. E olha que a gente não se combina. Para falar a verdade a gente não tem absolutamente nada a ver. E é só por isso que eu te quero.

Corações reciclados

Era para ser temporário e já se vão quase um ano.
Tanto tempo e eu ainda continuo me adaptando (...) Tantas voltas para chegarmos exatamente no mesmo lugar onde tudo começou. De novo. E quantas vezes mais? Até quando? Até onde nos permitimos ser invadidos? Seria egoísmo demais pedir para que você dividisse sua culpa comigo? Eu pensei que talvez, eu poderia tentar se ao menos eu acreditasse. Mas você consegue ser previsível até quando tenta me surpreender. Então para. Para de tentar se justificar pelos atos dos outros, usando meus próprios argumentos contra mim e vai embora. Vai e não ouse voltar para fazer tudo dar certo de novo porque agora, agora eu estou dizendo não para mim também. Entre todos os seus vários disfarces, a frieza é a que menos combina com você. E certas mudanças são necessárias. MUDANÇAS, não substituições como você geralmente costuma fazer. Então vai. Vai e traga tudo de volta. Porque eu sinto falta mesmo, é da tua ausência.

Vitrines

Fora um dia frio.
Lá fora, a chuva continuava incessante e um vento entrou porta adentro, varrendo consigo 15 anos de sorrisos embaçados e lágrimas empilhadas numa caixa vazia. Ela distraída, olhava álbuns antigos e se embriagava com sonhos enquanto a madrugada desfazia-se impregnada de lembranças. Quase podia sentir o coração obstruído se amarrando, enquanto chorava calada embalando histórias antigas com palavras mal escritas. Talvez fosse só saudade contra-atacando por pura covardia, condenando inverdades inventadas que complementavam a pluralidade das suas desculpas improvisadas. Talvez sua estrela ofuscasse mesmo os holofotes e ela devesse deixar as lagartas do casulo morrer a tempo, antes que terminasse o dia. A verdade, é que às vezes para que consigamos suportar, é preciso disfarçar os desacertos e tentar novamente; porque não podemos desmarcar o acaso em cima da hora e o tempo, o tempo devolve nossas certezas com a mesma insistência em que mentimos para aliviar o impacto da queda.

ontem

Uma simples distração enquanto o sono não vem.
E as horas insistem em competir novamente com os ponteiros do relógio. É quase meia-noite e o sol ainda não se pôs. Não aqui dentro, quando me lembro do teu sorriso velho de fotografia congelada. Sorriso com brilho de estrela encardida.

E são tantos os jeitos de se fazer tudo, que um dia vai querer voltar e se arrepender, porque o mundo tem mil formas de fazer com que você volte atrás mais uma vez. Você se afasta e eu me arrisco a voltar. Eu rabisco uma canção antiga para você me incendiar e o alarme soa falso, ensolarado demais pra encerrar o nosso dueto. Porque quando as cortinas se fecham e você volta a ser o que era antes, os aplausos continuam te ameaçando. Transformando nossos arco-íris em pequenas escalas de cinza e branco. E saimos mais uma vez, ilesos. Brincando de cabra cega com os olhos abertos.

Eu só queria que você soubesse que eu não vou desistir. Os malvados precisam provar um pouquinho do próprio veneno às vezes. E Eu poderia quem sabe, começar provando o que você tem de pior.

pra muitos lados.

A verdade é que ainda há muita coisa em jogo. Mesmo que este já tenha se esgotado entre todas as nossas recompensas e colisões. E as nossas renitências continuam em sustento. Pendendo pros dois lados simultâneos, na mesma intensidade, transformando o nosso tudo em um breve resumo de glória. E só o que sobra ainda é probabilidade, pura estratégia de sorte. Às vezes quando se permite desamarrar os laços e repudiar a si mesmo, as coisas se evaporam e condensam-se, escoando a dor em forma de chuva pra lavar a alma e domesticar os resquícios do novo caos. E a gente acaba tendo que se emendar nos vácuos dos nós frouxos das próprias amarras, respondendo aos ecos dos próprios retrucos que devolvem os embates da mesma forma que foram impostos. Oclusos. E repetidos.

Argamassa

" a cena repete, a cena se inverte, enchendo a minha alma daquilo que outrora eu deixei de acreditar" (...)

E as coisas terminam da mesma forma como começaram: imoderadas. Porque os ensejos simplesmente, se esvaíram e as quedas agora se dão por meio de sonhos que se findam em si mesmos, avulsos e iminentes. Invertendo papéis.
O mesmo consumo que antes me fazia querer fugir, hoje é também impulso para continuar insistindo. Insistindo em continuar a desistir. Desistir das perdas pela metade, das escusas e dos planos temporários. É como se não dar o beliscão que interromperia o pesadelo fosse o que ainda lhe permite continuar respirando debaixo d’água, entende? Porque de uma forma ou de outra, embora muito pouco tenha saído do lugar, muita coisa mudou. Quem não se lembra de mim? A mentirosa auto-suficiente que pesava cem quilos de grilo e medo e vivia fugindo de si e dos outros para tentar de alguma maneira, abdicar tudo o que eu já não podia mais controlar e que com um certo esforço contrário acabava se fundindo no tempo e consequentemente me corroendo por dentro. E você, a presunção em pessoa que se dividia em pedaços pra corrigir as nossas tentativas mal feitas que usávamos como escudos numa guerra de trincheiras contra nós mesmos, fazendo da dor suprema ousadia em hora extra, simulando fantasias que escorregavam, garis da decadência.
E ainda que seja difícil para ti entender, eu não quero alguém que me complete. Eu quero alguém que seja a minha própria continuação. Do avesso.

confissões

Sabíamos que mesmo sendo inúteis, as tentativas continuariam sendo feitas. Nada que comprometesse ambos os lados. Era apenas precaução. Você e sua velha mania de se municiar contra tudo e todos. Demasia.
E gradativamente as procuras, foram se tornando também as esperas. Porque de repente nossa carta de alforria era coincidentemente o motivo pra gente querer ficar. Nossos papéis se inverteram e a gente se (con)fundiu entre o tempo que passou e o que ficou pendente. Suspenso e em suspense.

E eu cansei dessa letargia. Expectativas são inebriantes demais para se esperar alguma coisa.

Remetente

Mais do que uma partilha, amizade é acima de tudo sinônimo de aprendizado. No curso do tempo acabam transpondo um infinito de cores, sons e momentos nunca antes previstos que crescem com a mesma intensidade do sentimento que aos poucos se faz florescer para ambas as partes, e de uma forma tão sutil que quando nos damos conta, o coração já se responsabilizou em estabelecer uma consangüinidade entre pontos e contornos que aos poucos se entrelaçam e desfiam a união de dois corpos que juntos, nos acordes de um só paralelo descobrem afinidades humanas em meio a tons disformes e afinações descompassadas. E o descontrole vira controle remoto da diversão, permitindo assim o equilíbrio entre os extremos de um e outro através das diferenças, das incertezas que aumentam a nossa sede contínua do exagero e nos aproximam cada dia mais. E quem diria que hoje seríamos assim tão intimas, tão donas de nós mesmas dentro de uma simbiose múltipla e inconstante. E eu venho aprendendo que de vez em quando é preciso confiar nos outros pra depois confiar em nós mesmos. Porque às vezes tudo o que falta é o empurrão. O impulso de um sorriso ou de um ombro amigo que faz você buscar forças lá nas suas próprias fraquezas. O aconchego de um abraço nos dias frios que lhe servem como alicerce e recolhem a lágrima antes que essa salte dos olhos e escapem pelas bordas. O pedacinho de sonho que a gente cuida junto e confia pro mundo pra se realizar. Porque amigos não têm espaço, tempo ou memória, são feitos apenas de saudade e recordações, compartilhando juntos os mesmos segredos e consequentemente, a mesma história.

Prematuro

Há uma pequena discordância entre nós.
Nossos passos já não se encaixam mais e se tentamos dançar sozinhos, terminamos tropeçando nos nossos próprios pés. Simultaneamente.
E então de saudade, o ócio se faz presente, recriando ilusões incontidas que a gente rabisca na mente e fica aguardando pra (re)viver.

borrão de cor

A gente se acostuma e vive correndo. Corre porque tem pressa.
Então esboça um sentimento qualquer, suplanta uma sujeira na alma e sai correndo fazendo conferência ao pânico; porque apesar de tudo – ou até mesmo por isso – sabe que correr é a única forma de continuar esperando. E por descuido ou cansaço, simplesmente deixamos nos desfazer, usando do improvável palco pra se redimir. E a gente abusa da própria estupidez pra se fazer de humilde, então descobre que é brincando de pique - esconde que se dá a cara à tapa (...)
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ Temos mesmo essa certa tendência ao exagero.

Subterfúgio

Os dias passam mais rápidos e o nosso futuro fica cada vez mais remoto. E a gente acaba se encontrando de novo, entre todos esses retornos que se alternam no nosso velho ritmo cíclico de re-começos. E é coração me servindo de despertador, dando bom dia ao anoitecer, bloqueando involuntariamente os furos da nossa trama. E eu acabo me entregando a mim mesma, contundindo todo o nosso tempo, que é presente aberto antes da hora. Então fica a impunidade que a gente aceita com relutância, mas que no fundo quer mesmo é que o outro revide pra abdicar tudo o que escorrega com autodenominações. E o pior, é que não é algo que a gente se force a fazer, elas iminentemente acontecem.
E essas coisas nunca mudam, elas apenas se diferenciam. Então é isso.
Se você quiser ficar, o problema é seu.

Impar sem par

(...) e de repente a vida anda com cara de música que dá vontade de dançar (...)
Já que é assim, eu confesso: Eu sei que eu errei.
E o erro foi esse mesmo: saber. Mesmo sabendo que não deveria.
E entre tudo mesmo perdendo significado, eles não deixaram de ser insignificantes. Já não servem mais como cicatrizes ou troféus. Nossos erros foram as nossas melhores mentiras.
Sempre existirão mil formas de fazer você voltar atrás. Encare a minha ‘indiferença’ como remissão. Bom senso, se quiser.
Se não fosse ridículo eu diria que chega a ser engraçado. Durante muito tempo eu fui a culpada e você a desculpa. Agora você aparece como o perdão e eu continuo sendo a errada. A que faz as coisas certas das maneiras inadequadas, não é?
É só que eu já não preciso mais de motivos. Chega um dia em que a bolha estoura PROPOSITALMENTE e a questão não vai ser tomar decisões e sim o modo como você vai encará-las a partir de agora. O impacto só é maior da segunda vez. Você volta mais ferida, e mesmo por isso, mais forte. Negar certas lembranças nunca serviu de amortecedor pra gente ficar debruçado no passado. Às vezes, os espinhos são os únicos que fomentam essa sede do tudo. E o nosso muito vira pouco. Excesso de profilaxia que faz escândalo por ser tão discreta. No preto e no branco. Entretanto.
A verdade é que a gente nunca sabe onde essas coisas realmente vão acabar. Até onde força e medo se misturam, até onde antídoto não é também o veneno. E a coragem surge assim, ao acaso, adubada com essa incerteza; e isso de não se despedir definitivamente, aumenta a sensação de estar constantemente de malas prontas esperando a próxima vez de partir (...) Talvez o que eu sinta, seja apenas saudade. Porque amor nunca é demais quando é pra gente. Consinta que o mundo nos espere, já tivemos perdas demais e você sabe disso. Deixa o relógio marcar o tempo sem que você precise ficar contando as horas. Permita-se. Porque no final, vencedor e perdedor são ambos os lados. Isso anula o jogo. E eu me redescubro forte. Mais uma vez.

Primeiras impressões

Não importa o quanto você negue, as probabilidades vão ser sempre as mesmas. Para ambos os lados.
Porque os fantasmas só existem enquanto eles lhe amedrontam. E é tarde pra dizer que foi só um engano.

Então vai. Decepcione-se.

Desencontros lado a lado

É que às vezes os cristais quebram e a gente é obrigada a mudar, porque as mentiras de tão constantes começam parecer verdadeiras. E o excesso faz o relógio marcar o tempo errado pro sangue correr nas veias certas.

Em suma, o brilho possui mais valor do que o próprio diamante em si.

Promessas

O silêncio do tempo, era a dor de se perder mais uma vez (...)
E embora haja tempo suficiente para esperar, agora é tarde demais. Já não há mais pra onde fugir, aonde chegar. E desde o começo soubemos. Como se as incertezas fossem redimir o que sentíamos. Mas isso não muda nada. Deixar tudo para trás é fazer escolhas. Então deixa ser. Porque fim nunca foi perda e hoje eu pude sentir o mesmo, e nem por isso deixou de ser amor. Então deixa estar. Não importa como ou quanto. Mesmo que nada seja dito. Que a nossa eternidade, seja agora. Seja por quem for.

Fica?



Fugir

pra qualquer lugar que nos faça sentir que ainda estamos vivos.

Esperança

Eu me flagrei hoje pensando em nós dois. E pela primeira vez com palavras gastas aparecemos na mesma frase em formas similares. E éramos parte de um mesmo todo. Apesar da distância. Apesar da ausência de te querer cada vez mais. E a vontade volta. Excessiva. Em mim e em você. E só você não vê que estamos sendo alugados pelo nosso próprio coração. E eu preciso te ter mais uma vez. É pra nunca ter fim mesmo.
Deixa a impressão. Está completo assim.

foi uma vez

Eu nunca imaginei que seria assim. Fácil demais enganar os outros, quando não se quer enxergar o que o coração insiste em manifestar. Eu só me pergunto até quando ainda haverá espaço suficiente pra nós dois. O quão perto nós conseguiríamos chegar. Porque com o tempo, de tão íntimos já não nos conhecemos mais. E eu me ponho no seu lugar e quem se machuca é você, enquanto deveria ser eu. Eu só queria que você soubesse a diferença entre colocar as coisas na balança e saber realmente o peso que elas exercem sobre a gente. Entre um e outro. Porque eu conheço o seu truque e por muito pouco não é recíproco. E eu realmente não me importo. Não vou inventar uma realidade que nunca existiu.
E então? Quem ganha esse cabo de guerra?

Relicário

Eu nasci pra querer. Querer viver. Preciso de ar, mais do que apenas respirar. E vivo assim, só de imaginação. Eu que sempre termino me desfazendo em palavras, mas que palavra mesmo eu não tenho: nunca cumpro o prometido. Eu que carrego o sol como amuleto e tenho sede de mundo. E já não caibo mais em mim. O coração salta pelos olhos, pela boca e me devora. Se condensa e me perdoa. Eu que nunca fui santa. E é só contração do sono que perde a voz e de repente eu já não sou. Ando mais livre, mais de mim. E de todo mundo. Do meu mundo, que respira lá fora. Fora de hora. E é inconsciente brincando de crime enquanto todo mundo dorme. E eu aqui, de olho aberto. Falando mentira no confessionário. Talvez, seja só um certo prestigio particular que acaba virando dor, contumácia e eu perco o sentido. Sentido que eu nunca tive e vivo fugindo pra não ter. Mas acho que mesmo se eu quisesse não conseguiria jogar tudo assim pro alto e o nome disso? É orgulho. E o meu é totalmente solúvel em raiva. Nada mais do que aqueles desaforos que a gente gosta de mastigar e quando se dá de ombros demais, eles escorregam e se agarram à gravidade virando força e você continua ali, de pé. Porque é sempre esperança, mesmo que latente, mesmo que ignorada: é. E no dia seguinte a dor vira ressaca. Erro que ganha cara de rascunho. E fim não é perda, anota ai: é TRANSFORMAÇÃO. Indolência que pede bis e que às vezes diz que é preciso se entregar. Esquecer pra deixar eles lá se lembrarem. Porque publicidade coloca auréolas até mesmo nos piores demônios e contraregras fazendo moda até que ficam bonitinhos... E aquelas horinhas vão virando eternidades. Múltiplas escolhas que ficam a margem da coletividade. Entretanto entretido que intervém e entretém entre tudo. E todos. E eu venho aprendendo a confiar nos outros pra depois confiar em mim mesma. Bem aquelas estratégias com prazo de validade que fazem você buscar forças lá nas suas próprias fraquezas. Mas nem sempre o que vale é a intenção. Pior do que a mentira é acreditar nela. E quer um segredo? A privacidade dos disfarces prende mais do que o próprio cárcere em si. E o pensamento sufoca a imaginação. E eu ainda tento falar do que nunca senti e as minhas escolhas acabam se fazendo por si só, tão independentes que eu nunca sei quando o ponto de partida é o pontapé inicial ou o desfecho convencional. E a gente aqui. Como se fosse assim, como se tudo se resumisse a isso.

Insolvente

E com o tempo as desnecessidades vão ficando à mostra, desnudando os meus anteparos que de tão transparentes transcendem e se transformam, interrompendo a cena em ritmo de teimosia. E o motivo é sempre o mesmo, eu sempre termino me aliando contra tudo o que eu mais abomino. E é por tanto pensar que eu acabo agindo por impulso, renegando dissabores que de tão (o)usados já não possuem valor algum. E falta tempo, espaço e verdade para querer, para retroceder e ir contra tudo o que eu não quero esquecer e a gente acaba transformando em desculpa, em força dissimulada. E é ponto pra nós. Mais uma vez. É só que hoje, talvez eu já não saiba mais como parar, se eu realmente conseguiria tampar os ouvidos e escutar o coração se restaurando. Porque de uma forma ou de outra acaba sendo a mesma coisa e depois só sobra isso. Desperdício e lixo. Vazio. Silêncio. É muito produto pra pouca adjacência, manutenção sem conseqüência. Ou talvez seja o contrário. Eu nunca sei quando é real. Quando o procedente é válido mesmo ou pura estratégia de marketing. E estabilidade é isso, controle remoto da estagnação. Contumácia que pede reciclagem constante pra desviar. E eu gosto disso. Do novo. Do imprevisto. Do susto que espera pela batida, pela intimidade quente. Mas não se preocupe, meu insucesso é somente para consumo doméstico. E quer saber? Não me leve a sério, eu nem resisto mesmo...

inconstante

As lágrimas nem sempre escoam a alma e as despedidas nunca dizem que é preciso ir embora. Às vezes o ontem se concentra no agora, e não passa. Se escora.
Esquecer é a eutanásia do amor.
É dor sussurrada no telefone sem fio da memória. Vira espora, e espera.
E de repente é a letra que faltava na nossa trilha sonora.
Porque ninguém ouviu os meus batimentos cardíacos que desmentiam a minha indiferença forçada. E os meus “obrigados” soam agora como pedidos de desculpas
(..)
E o nariz de palhaço termina como enfeite: a cereja que faltava para a receita perfeita. E fim.
Os opostos se distraem.
Os opostos se destroem.

Isso e aquilo.

É essa coisa qualquer que entra num determinado vão em forma de êxtase e permanece, impedindo o sol de se pôr por alguns dias. Aquelas coisas que você sabe o que é, mas não sabe explicar (...)

Então deixa assim. Porque todo vinho pede um brinde e a nossa bandeira branca, velha de guerra, já virou pano de chão. E essas palavras só existem na ponta do lápis. Nada de mais, eu sei. É o que você iria dizer.

Não é preciso

congelar seu coração pra crescer.
Nuncas viram sempres por conta própria. E ponto.

Dá licença

Os meus próprios ataques acabam por me entregar. Eu sei, mas nunca cumpro o prometido. Talvez se os efeitos não demorassem tanto a aparecer incomodava menos, mas eles acabam refletindo lá na frente, como defeitos. Muitas vezes disfarçados. É mais determinação que abusa pra insultar e depois acaba reagindo de todas as formas possíveis por meios formais. Sem semi-correções. Sem palcos ambulantes. Uma matemática tanto quanto injusta, mas a geometria tem que ser perfeita: cada quadrado no seu devido lugar. Às vezes é pra conter e outras são pra ilhar, mas nunca é pra concorrer. É só expressão contida que foge pelos fundos, fazendo cena. E de repente é preciso correr em controvérsia pra não atropelar o curso natural das coisas. Correr em corda bamba usando salto alto, em sentido anti-horário. ALÔO meu oxigênio precisa de pri-va-ci-da-de!!

Contravenenos

Tic tac. E é preciso achar o tempo certo pras coisas piorarem. São exigências que interrompem. Que blindam e que rompem. Moduladas e contidas. Quase, quase despercebidas. É tipo como confiar em um guia cego, ou escolher de olhos fechados. Tão cáustico como fazer um piquenique sobre as ruínas. Mas tudo bem. Já que tá uma merda vamos aproveitar. Porque ainda é veneração que rende, que vai além. Ímpar e nômade. E sendo premeditado ou não, precisa ser regularmente substituído, no circuito de uma catarse em movimento, dilatando retrações e colhendo as punições. Queria não depender tanto dessas coisas, mas acabam fazendo falta, mesmo que insistam em dizer que não. Acho que também vou pedir pra me reescreverem, seqüestraram as minhas descrições. Agora eu sou sujeito. Sujo e imperfeito. No pretérito. Digam tchau pra ‘velha senhorita’, porque eu guardo ressentimentos.

bad trip

É tudo produto de indulgência e a intolerância é a redenção. Hipocrisia é show humorístico no circo contemporâneo e além disso, não aprenderam que ignorância ainda não se compensa com arrogância. O que vale é ser in, ter status, um tênis maneiro e uma mente vazia. Uma salva de palmas, que eles merecem. A vibe dessa geração é um lixo!

uma parte da história que ninguém contou


Entre todas as coisas e sobre todas as maneiras pra se falar de “quase tudo”, muito pouco conseguir vir à tona. Mas ainda é quase, entretanto. Porque ainda falta um pouco de credibilidade pra eu conseguir quem sabe, monopolizar o que ainda resta da verdade. Saber o que de fato ainda é “real”, entende? Porque meus escudos se esconderam de vez. Minha carta de alforria é uma vida de quinze minutos. Liberdade é exercício pra paciência. É onde o processo de um ajuste é desmentido pelo raciocínio de um escombro. Inverso e em verso. É vírgula que nasce em cima do descontente pra contundir o que ainda resta de um presente extinto há muito. É pretensão que pede bis e desfigura a rota em vários rumos. É matéria ao mesmo tempo em que é desperdício. É onde tudo acaba em um segundo pra depois se multiplicar. Ou melhor, pra se restaurar toda vez que eu disser nunca mais. 

fragmentos


São circunstâncias diferentes e os mesmos rostos de sempre. São palavras projetadas. De novo. Talvez pra esconder. Talvez pra mostrar que nem sempre pra blefar é preciso desviar o olhar. Talvez porque estamos nos deixando levar e eu termino tendo que remediar pra me prevenir: inversão enferrujada que muda o foco das atenções. Pra impedir um contorno que se gasta. Quebrando o ritmo, acelerando os batimentos. De tudo o que eu não sei dar nome. Do que se repete, contudo. Pra somar.
Quem sabe? Quem vai saber? 

duas medidas


Este já não é apenas um caso de mera intolerância, falta estabilidade. Mais do que gostar por obrigação ou fazer por conveniência. Porque pontos finais são sempre pontos de convergência e eu não sei viver um dia de cada vez. Tudo deriva da minha ansiedade compulsiva e eu acabo, mais uma vez, me afundando nessas coisas que não podem ser verbalizadas. Porque reincidências acontecem quando sua sombra começa a refletir pra dentro de si mesmo. Acontece na epiderme das palavras mais importantes, onde até mesmo o abstrato consegue se desmaterializar...
E eu fico me perguntando: pra onde vão os meus dias que desaparecem?

lumes


Foi melhor isso me escapar indiferente. Uma mentira, ás vezes, é capaz de anular um tremor mais bobo e confesso que talvez eu tenha sido precipitada demais. Subestimei minha própria ignorância pra sonegar os vermes que me comem a carcaça debaixo da pele. Eu me vinguei com a minha própria covardia. Eu quis suplantar o teu disfarce de mil faces e teus olhares e gostos e cores e sorrisos que escondiam mil punhais. Porque depois de todos esses incêndios, as minhas cinzas nada mais são do que pólvora que eu guardo escondida debaixo dos pés e o teu fogo é chama que já não arde mais. Eu não soube ver que assumindo os teus erros eu poderia também consertar os meus então deixei meu coração numa vitrine qualquer pra você me notar... Quem sabe algum dia você perceba...