Vitrines

Fora um dia frio.
Lá fora, a chuva continuava incessante e um vento entrou porta adentro, varrendo consigo 15 anos de sorrisos embaçados e lágrimas empilhadas numa caixa vazia. Ela distraída, olhava álbuns antigos e se embriagava com sonhos enquanto a madrugada desfazia-se impregnada de lembranças. Quase podia sentir o coração obstruído se amarrando, enquanto chorava calada embalando histórias antigas com palavras mal escritas. Talvez fosse só saudade contra-atacando por pura covardia, condenando inverdades inventadas que complementavam a pluralidade das suas desculpas improvisadas. Talvez sua estrela ofuscasse mesmo os holofotes e ela devesse deixar as lagartas do casulo morrer a tempo, antes que terminasse o dia. A verdade, é que às vezes para que consigamos suportar, é preciso disfarçar os desacertos e tentar novamente; porque não podemos desmarcar o acaso em cima da hora e o tempo, o tempo devolve nossas certezas com a mesma insistência em que mentimos para aliviar o impacto da queda.

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