inconstante

As lágrimas nem sempre escoam a alma e as despedidas nunca dizem que é preciso ir embora. Às vezes o ontem se concentra no agora, e não passa. Se escora.
Esquecer é a eutanásia do amor.
É dor sussurrada no telefone sem fio da memória. Vira espora, e espera.
E de repente é a letra que faltava na nossa trilha sonora.
Porque ninguém ouviu os meus batimentos cardíacos que desmentiam a minha indiferença forçada. E os meus “obrigados” soam agora como pedidos de desculpas
(..)
E o nariz de palhaço termina como enfeite: a cereja que faltava para a receita perfeita. E fim.
Os opostos se distraem.
Os opostos se destroem.

Isso e aquilo.

É essa coisa qualquer que entra num determinado vão em forma de êxtase e permanece, impedindo o sol de se pôr por alguns dias. Aquelas coisas que você sabe o que é, mas não sabe explicar (...)

Então deixa assim. Porque todo vinho pede um brinde e a nossa bandeira branca, velha de guerra, já virou pano de chão. E essas palavras só existem na ponta do lápis. Nada de mais, eu sei. É o que você iria dizer.

Não é preciso

congelar seu coração pra crescer.
Nuncas viram sempres por conta própria. E ponto.

Dá licença

Os meus próprios ataques acabam por me entregar. Eu sei, mas nunca cumpro o prometido. Talvez se os efeitos não demorassem tanto a aparecer incomodava menos, mas eles acabam refletindo lá na frente, como defeitos. Muitas vezes disfarçados. É mais determinação que abusa pra insultar e depois acaba reagindo de todas as formas possíveis por meios formais. Sem semi-correções. Sem palcos ambulantes. Uma matemática tanto quanto injusta, mas a geometria tem que ser perfeita: cada quadrado no seu devido lugar. Às vezes é pra conter e outras são pra ilhar, mas nunca é pra concorrer. É só expressão contida que foge pelos fundos, fazendo cena. E de repente é preciso correr em controvérsia pra não atropelar o curso natural das coisas. Correr em corda bamba usando salto alto, em sentido anti-horário. ALÔO meu oxigênio precisa de pri-va-ci-da-de!!

Contravenenos

Tic tac. E é preciso achar o tempo certo pras coisas piorarem. São exigências que interrompem. Que blindam e que rompem. Moduladas e contidas. Quase, quase despercebidas. É tipo como confiar em um guia cego, ou escolher de olhos fechados. Tão cáustico como fazer um piquenique sobre as ruínas. Mas tudo bem. Já que tá uma merda vamos aproveitar. Porque ainda é veneração que rende, que vai além. Ímpar e nômade. E sendo premeditado ou não, precisa ser regularmente substituído, no circuito de uma catarse em movimento, dilatando retrações e colhendo as punições. Queria não depender tanto dessas coisas, mas acabam fazendo falta, mesmo que insistam em dizer que não. Acho que também vou pedir pra me reescreverem, seqüestraram as minhas descrições. Agora eu sou sujeito. Sujo e imperfeito. No pretérito. Digam tchau pra ‘velha senhorita’, porque eu guardo ressentimentos.

bad trip

É tudo produto de indulgência e a intolerância é a redenção. Hipocrisia é show humorístico no circo contemporâneo e além disso, não aprenderam que ignorância ainda não se compensa com arrogância. O que vale é ser in, ter status, um tênis maneiro e uma mente vazia. Uma salva de palmas, que eles merecem. A vibe dessa geração é um lixo!

uma parte da história que ninguém contou


Entre todas as coisas e sobre todas as maneiras pra se falar de “quase tudo”, muito pouco conseguir vir à tona. Mas ainda é quase, entretanto. Porque ainda falta um pouco de credibilidade pra eu conseguir quem sabe, monopolizar o que ainda resta da verdade. Saber o que de fato ainda é “real”, entende? Porque meus escudos se esconderam de vez. Minha carta de alforria é uma vida de quinze minutos. Liberdade é exercício pra paciência. É onde o processo de um ajuste é desmentido pelo raciocínio de um escombro. Inverso e em verso. É vírgula que nasce em cima do descontente pra contundir o que ainda resta de um presente extinto há muito. É pretensão que pede bis e desfigura a rota em vários rumos. É matéria ao mesmo tempo em que é desperdício. É onde tudo acaba em um segundo pra depois se multiplicar. Ou melhor, pra se restaurar toda vez que eu disser nunca mais. 

fragmentos


São circunstâncias diferentes e os mesmos rostos de sempre. São palavras projetadas. De novo. Talvez pra esconder. Talvez pra mostrar que nem sempre pra blefar é preciso desviar o olhar. Talvez porque estamos nos deixando levar e eu termino tendo que remediar pra me prevenir: inversão enferrujada que muda o foco das atenções. Pra impedir um contorno que se gasta. Quebrando o ritmo, acelerando os batimentos. De tudo o que eu não sei dar nome. Do que se repete, contudo. Pra somar.
Quem sabe? Quem vai saber? 

duas medidas


Este já não é apenas um caso de mera intolerância, falta estabilidade. Mais do que gostar por obrigação ou fazer por conveniência. Porque pontos finais são sempre pontos de convergência e eu não sei viver um dia de cada vez. Tudo deriva da minha ansiedade compulsiva e eu acabo, mais uma vez, me afundando nessas coisas que não podem ser verbalizadas. Porque reincidências acontecem quando sua sombra começa a refletir pra dentro de si mesmo. Acontece na epiderme das palavras mais importantes, onde até mesmo o abstrato consegue se desmaterializar...
E eu fico me perguntando: pra onde vão os meus dias que desaparecem?

lumes


Foi melhor isso me escapar indiferente. Uma mentira, ás vezes, é capaz de anular um tremor mais bobo e confesso que talvez eu tenha sido precipitada demais. Subestimei minha própria ignorância pra sonegar os vermes que me comem a carcaça debaixo da pele. Eu me vinguei com a minha própria covardia. Eu quis suplantar o teu disfarce de mil faces e teus olhares e gostos e cores e sorrisos que escondiam mil punhais. Porque depois de todos esses incêndios, as minhas cinzas nada mais são do que pólvora que eu guardo escondida debaixo dos pés e o teu fogo é chama que já não arde mais. Eu não soube ver que assumindo os teus erros eu poderia também consertar os meus então deixei meu coração numa vitrine qualquer pra você me notar... Quem sabe algum dia você perceba...