âncoras

É só que, eu prefiro acreditar na capacidade das pessoas em amar do que no próprio amor em si.
Isso tudo tem um "quê" exagerado de idealismo e ilusão que sinceramente, não me interessam mais.

flor de estufa

Longe de tudo a ilusão é ousadia. A cobra sem veneno que me oferece a maçã do pecado e que eu como com gula e desespero, porque sei que essa é também uma forma de me redimir. Desse jeito meio esquerdo e errado mesmo. De tudo que eu vivo nos intervalos de atropelos que me aparto para esculpir toda essa dúvida. E de tanto que me sugo, toda essa sujeira de mim acaba por inflamar numa raiva surda e impotente. E eu quase havia me esquecido o que é sentir isso. Primeiro o se entregar pela metade. E as reincidências. O refazer de contrato com a dor e então, as recaídas: as bocas de lobo do mundo que me cospem um formigueiro de ausências e acúmulos. E todo esse desperdício de economias. Uma fome que dá uma vontade louca de nunca mais comer. E um medo de que gostem mesmo da gente. Porque de repente viver me parece ridiculamente fácil. Então eu troco o meu trem descarrilhado por esse carrossel de cavalos velhos que nunca se cansam da corrida. E ninguém mais precisa saber que eu chorei ontem a noite... quando dou por mim estou novamente desfazendo as malas. Traindo a minha puerícia castigada por esses abutres que me riem com suas bocas desdentadas. E acredito por pura precaução, visto meus farrapos de esperança só para não sentir o peso que sucumbe nos joelhos de vez em sempre. E escalo de novo e mais uma vez os meus desmoronamentos com a pressa lenta do “ainda dá tempo”. Tempo que nunca é suficiente apesar de toda essa ociosidade em abundância. Apesar de toda essa inerência ativa que ladra meus becos com olhos míopes de quem quer revanche. Muito que me furta apenas as esmolas e recusa tudo de bom que eu tenho para oferecer. Que violenta a minha própria vontade e que por pouco eu não cedo e quase me atraso. Sei la. Viver é depender de tanta inutilidade. E é muito mais fácil ser feliz quando se é ignorante. Mas felicidade não é só a distração da ferida. E eu conheço cada arranhão que trago no peito.
Então não conte os dias para voltar. Certas fugas não permitem despedidas. E se puder, me manda uma noticia boa...

um nunca acabar de.

É só que hoje, eu entreguei a minha paz para as reticências (...)

robôs que sangram

A ultima palavra. E ainda assim eu procurei qualquer desculpa mais convincente, mesmo com tantos motivos e evasivas para não imergir no abismo intocável de rastros malfeitos que é o meu coração encharcado de bile e desassombro nenhum.. E então eu me escondo debaixo da mesa para comer as migalhas invalidadas que discretamente me despencam ralo a baixo, com a mendicância e a ousadia e toda essa gula dessas rebarbas de desespero que me dá essa cólica que eu sinto em viver. E eu continuo tateando esse formigueiro no estômago com uma curiosidade quase infantil e desenfreada. Porque o meu orgulho é totalmente solúvel em raiva. E a minha raiva é totalmente anestésica a esses heróis antagônicos e a esses venenos que a gente consegue equilibrar com um pouquinho de dor. Com o padecimento e a concessão ainda que contrárias, de quem se espreguiça para morte. E que eu vomito para dentro de mim mesma com o refluxo e a indigência de quem revida a ressaca descarga abaixo só para poder expulsar o que é nosso para perto desse sopro estragado que jorra e me aviva querendo se vingar. Como se eu nunca tivesse sofrido ou usado essas cicatrizes antes como muletas para me municiar desse carrasco que é o mundo. E é só me distrair que quase escorrego no meu próprio sangue..

sufrágil de plástico

Talvez eu tenha mais para dizer do que as palavras me permitam, mas não quero lamentar nada nem tampouco descobrir (in)limitações perdidas enquanto escrevo... São dias esfumaçados e quase ausentes, passo mais tempo fora de órbita do que me seria permitido e quase não me dou conta. Voltar para casa ainda me soa seguro e garantido, mesmo que a cada dia o caminho de retorno pareça ainda mais extenso do que me foi no dia anterior. E é com gula que me recrimino, com a ausência e o maldito medo de ir além dos olhos. E revido essa ânsia e esse demônio de auréolas que me rasga o íntimo para me compensar na urgência que vivo e no desuso em que espero o não-chegar. Isso tudo que quase chega a ser alarme, mas se parece mesmo é com alegria. Essa suspensão desconfortável e todas as separações provisórias. A excelência dos riscos. A boca ultrajada do céu e do inferno. E essa mixórdia de sentimentos e sensações mnemônicas que me postergam e me antecedem, como o rato ofendido que atrevidamente me cospe na cara a chaminé que me habita debaixo do peito... E são os detritos que sagram os vencedores dessa vez. E eu me lambuzo toda na imundície disso tudo para me purificar... Então me abasteço desse pedaço de passado aplacado para pendurar outras dores escondidas, num deixar-se ir de sonhos instantâneos e despedidas extensivas. E me esqueço um pouco do quanto é insano e doentio tudo isso e como inevitavelmente essas coisas acabam conseguindo vencer a resistência do ar para me fazer sair do chão toda vez que eu finjo não ver. Até eu, anjo de asas tortas que mesmo depois de tanto tempo ainda poupo um coração que mais parece um campo minado em guerra. Eu, que de repente vivo esburacada de tantos vãos que me abro para poder ser mais um pouquinho. E crio tanta coisa para me consentir invadida que quando a chuva passa meus arco-íris por fim renascem das cinzas e o dia finalmente muda de cor. E pensar que nada mais disso me importa. Porque somos todos feitos de defeitos. Até eu, gata borralheira sem encanto, que só vou lembrar de sonhar quando enfim já é meia noite e a madrugada já se encarregou de transformar meus gritos internos em ruídos surdos pro dia poder nascer e eu passar a existir outra vez.