meia luz
auroras
pra não dizer que eu não disse
um pouco de tudo
pormenores
a ver navios
Porque agora tanto faz, meu bem... Essa é só mais uma tentativa –inútil- de me manter na superfície desses sentimentos rasos que eu confundo com (a)mar...
borrões, borrachas
Que os acasos nos permitam mais alguns reencontros pra gente se redimir do pecado que é sermos felizes juntos.
tão-somente
Então distraio os meus dias com tudo aquilo que acreditei ser apenas ilusão. Porque a pressa é presa minha e de repente ando com aquela displicência de quem abrevia a vida para poder viver mais um pouquinho...
E quase me perco em desuso. Quase naufrago diante dessa sede exagerada para me contentar insatisfeita com esses quase-sonhos que eu insisto em viver de olhos abertos...
É que eu só vivo nesses intervalos desmotivados e humanos de distração (...)
flor-e-ser
constâncias
cirandas
Eu sempre acreditei na existência da distância. E agora, é engraçado perceber assim tão repentinamente como o tempo passou. Porque já se vão um mês, acredita? E eu não me dei conta de quantas mudanças passaram despercebidas desde que eu cheguei aqui. E isso é quase assustador (...) O tempo passou enquanto eu deixava o ontem na estrada e esticava as madrugadas insones. Enquanto os meus pés decoravam o novo caminho pra casa e a saudade se acomodava no peito. Um mês enquanto eu passava os rascunhos a limpo e adestrava os meus fantasmas internos. Enquanto eu tagarelava incansavelmente só pra não sucumbir no silêncio que denuncia essa ausência que tanto me perturba. Um mês enquanto eu fingia ser inconsequente só pra não lembrar da responsabilidade que é ser sozinha. Um mês enquanto eu simulava não saber o que é timidez e pedia pra estes novos rostos -agora tão corriqueiros- emprestarem seus sorrisos pros meus dias serem mais leves (..)
E agora sim, tudo se ajusta. Já falo com mais naturalidade os pronomes possessivos: minha casa, minha rua, minha cama, minha nova rotina...
Um mês. E o tempo passou enquanto eu brincava de ser adulta.
Adulterada. Adult-errada.
poemas e pétalas
Teus olhos-armadilha recolhendo a confusão dos meus dias. Teu riso tão meu suspenso em um raio de sol.
(...)
E tenho meus lábios se ajustando aos teus, um afeto esperando para existir e desejos que esbarram sem querer nas quinas do peito.
Eu: personagem de mim mesma. Que carrego comigo a timidez dos que não possuem certeza.
E você: credor de um coração negligente. Que faz ser singular aquilo que nos outros é tão comum.
Tão dono de si. Tão dono de mim...
amor-tecer
Não olha pra trás. Já foi.
(...)
Minha espera é a tua procura.
Tua fuga é o meu encontro.
E hoje, o imediato é o nosso tempo.
meio-tom
Pelos tempos sem data. Os sorrisos gratuitos. Os lampejos de cor recortando a retina...
É quando descanso meus olhos nos teus.
Quando a gente faz-de-conta. Quando a gente joga contra. Nas periferias do peito...
É quando posso ver o mundo contido num sorriso teu. É quando eu posso escrever um verso em que “você” rima “comigo”
(..)
miscelânea
E o sorriso nos lábios é uma advertência: evidências da luta não há (...)
Vai menina, deixa o teu sorriso transformar o mundo...
até desistir
Fim é mesmo uma palavra condenada por definição. Traída pela semântica, combatida pelos pontos finais. É meu caro... game over, fim de linha, o arranque das despedidas... Não há como negar que todos nós abandonamos alguma coisa ali quando terminou. Nós, que sempre estivemos de mudança. E eu, que sempre quis ir embora e agora estou voltando pra um lugar do qual nunca saí de fato. Então deponho as armas, refaço as malas e levo comigo meu coração-bagagem rumo ao embarque dos desimpedidos. Pois agora eu sei. O futuro é o que sustenta o passado, não é mesmo? E essas fatalidades sempre me parecerão escolhas minhas. Porque agora desamarrar os nós parece tornar os laços mais fortes, entende? E tudo é relativo. E exato. Então eu espero e tudo me aguarda. É hora de provar o doce-amargo que antecede as despedidas.
Vem meu caro, vamos jogar. Os dados foram lançados...
des-espero
Talvez seja tarde para justificativas, embora eu continue sempre parecendo precipitada naquilo que faço. Ou talvez tudo já tenha sido realmente dito ou feito e agora estamos mesmo fadados ao silêncio. Porque as certezas que me chegam, ainda ecoam como uma tristeza. E eu me pego aqui repetindo erros antigos, desgastando as mesmas palavras com desculpas mal formuladas; Equilibrando tudo nos ponteiros do relógio para que o tempo não abrevie os meus devaneios. Entende? É que eu sempre fui dessas egoístas que não sabe dividir o próprio espaço e me vi meio invadida desde que você chegou fantasiado de sutileza, vestido com seus charmes e olhares e perfumes. E possibilidades. E eu só queria te dizer como é ver o mundo refletido nos teus olhos. Só queria que o meu silêncio pudesse dizer tudo o que eu sinto quando você me abraça. Porque nós sempre fomos um casal homogêneo. Apesar dos desencontros, dos desalinhos, das palavras tortas. Nós fomos determinados pela sorte, menino. Você é aquele que perdoa a minha imperfeição nessa desordem que é o mundo. Eu me entreguei a você e nunca me senti tão minha sendo tão sua. E é por isso que você não merece ser uma lembrança triste.
Desfaz esse engano destino...
rodapé
Ainda bem que janeiro está ai. Limpo, benigno. Pronto pra renovar as esperanças, dar anistia aos desacertos, resgatar as coordenadas e reanimar certas coisas que involuntariamente morrem com a chegada do calendário novo...