meia luz

E tropeço mais uma vez nas palavras pra tentar desafogar esse peito que bate sempre em contramão. E antes que eu dê por tudo isso, o fim se antecede ante a iminência de um possível ponto final (...) É que talvez toda fatalidade carregue em si um pouco de casualidade. Entende? E eu de repente por ter limites tão vastos me vi enclausurada e fiz emergir certas coisas simplesmente por querer mergulhar demais. 


auroras

Eu posso até estar errada... Talvez só sejamos personagens de uma história de enredo frouxo. Talvez o medo seja só uma coragem virada pra dentro. Ou, talvez, eu só esteja confundindo esses caminhos que singrei e as dores que também sangrei nos últimos tempos (...) É que chegamos ao fim da linha, mas às vezes  é como se eu tivesse ficado pela metade do caminho, entende? E os sopros que me chegam são quase como ventanias; quase como uma urgência contida nas veias que nada mais é do que procura. Procura que desafia o amor ferido de morte, a vitória pela metade e essa alegria dançando nos olhos. Procura que condena a armadura que eu escondo nas engrenagens do peito e desafia esse "tardar-se".

(...)
Desfaz da tua armadura e eu te dedico todos os meus sorrisos, menino. 

pra não dizer que eu não disse

Me atenho a todas essas coisas ínfimas pra não ceder à extensão dos meus limites. Porque de repente eu não consegui voltar pelo mesmo caminho da ida. De repente eu precisei trocar o meu radar por areia movediça porque os escudos começaram a me deixar mais exposta pra isso tudo, entende? E tudo se encerra aqui com esses términos que na verdade não rematam nada.
Conspira universo, conspira...

um pouco de tudo

Melhor renunciar provisoriamente (...) É que às vezes eu confundo certas gotas com mar e não encontro ancoradouro pros meus naufrágios. Você diz “tanto faz” e eu entendo “tudo- ou-nada”. Então me dou ao luxo de afundar até o lodo do sentimento. Porque nós quebramos todas as regras, meu bem. Eu vi você gangorrando com a vida e quis brincar, mas eu não sei jogar o teu jogo e é o brinquedo que brinca comigo. E eu me equilibro desajeitadamente sobre a linha tênue que separa a vaidade da inconsequência (...) É que a gente se conheceu no enredo errado, entende? E a nossa história se encerra em si. Se desmancha em linhas assim como aquelas malhas que por causa de um único fio solto se desfazem toda. E por isso escrevo. Porque o nó é o nosso ponto fraco. E agora as duas partes da verdade se sobrepõem. E eu me entrego à dualidade dos fatos e me pergunto como é que cabem dois momentos no mesmo instante?
Nós quebramos todas as regras (...)
É que eu pensei que amar era também armar-se, entende?

pormenores

(...)

Estico as mangas da blusa até as pontas dos dedos, fecho as janelas, pego outra xícara de café e me encolho mais um pouco dentro do cobertor... E me encubro com mais alguns sentimentos genéricos, algumas emoções baratas, umas opiniões incertas e uns farelos de ilusão ou ousadia... É pra ver se eu me aqueço nesse inverno e espanto esse frio que também se estende pro peito e esmorece tudo, me fazendo às vezes ir chorar escondida no banheiro só pra eu não esquecer de como é ser triste de vez em quando (...)

a ver navios

Agora tanto faz, meu bem. Nós somos uma mera evidência (...)
Tira a poeira dos olhos e traz rima pros meus versos pra eu poder viver com menos culpa nosso compromisso-descompromissado em segredo. Quero teus braços de abraços brandos. Quero tua solidão me fazendo menos sozinha. Porque o teu perfume vai ter sempre cheiro de saudade. E sou conto de fadas. E você me encanta. Mas o feitiço só faz estrago depois da meia-noite no nosso carrossel de possibilidades entre lençóis, beijos e dissabores (...)
Me a-guarda, anjo meu. Vou percorrer o caminho que as pintinhas fazem até chegar ao teu pescoço, bem depois das curvas do teu sorriso...

Porque agora tanto faz, meu bem... Essa é só mais uma tentativa –inútil- de me manter na superfície desses sentimentos rasos que eu confundo com (a)mar...

borrões, borrachas

Eu quis tanto voltar. Quis tanto devolver as palavras que ficaram suspensas no silêncio entre nós. Quis tanto amenizar esses arranhões que te riscam o peito e dizer que a tua confusão também era minha (...) Mas o silêncio virou ausência, o cansaço virou preguiça e o momento ficou querendo ser circunstância ... É que deu tudo errado quando a gente fez a coisa certa, entende? E nós fomos covardes demais, amor. Nós usamos a dor como reboque. Nós nos conformamos com a relutância dos desistentes. E agora, agora é preciso arcar com as consequências dos nossos atos. Porque eu fui tua de mentira. E talvez eu estivesse pensando mais em mim do que em você, porque ser egoísta também é uma forma (meio torta) da gente gostar um pouquinho de si mesmo, não é? E você me deu tantas coordenadas, desconstruiu meus heroísmos bobos, me fez menos menina, transformou em sorriso aquilo que um dia já foi lágrima. E eu não soube agradecer, não soube me desculpar. Só queria que soubesse que eu não fui uma escolha e que você também não foi uma ironia.

Que os acasos nos permitam mais alguns reencontros pra gente se redimir do pecado que é sermos felizes juntos.

tão-somente

(...)

Então distraio os meus dias com tudo aquilo que acreditei ser apenas ilusão. Porque a pressa é presa minha e de repente ando com aquela displicência de quem abrevia a vida para poder viver mais um pouquinho... 
E quase me perco em desuso. Quase naufrago diante dessa sede exagerada para me contentar insatisfeita com esses quase-sonhos que eu insisto em viver de olhos abertos... 

É que eu só vivo nesses intervalos desmotivados e humanos de distração (...)

flor-e-ser

A verdade é que eu nunca me pertenci. E vivo sem freios, tropeçando nas minhas próprias interrogações; carregando as suturas que escoram as bordas da consciência, o limiar dos sonhos (...) Eu: a desapaixonada à espera do amor. Eu: a esfomeada que vive fazendo regime. E vivo palavrerrando. Como se pegasse às vezes o cansaço do mundo pra poder distrair o meu próprio cansaço. Porque meu peito é um ringue a céu aberto, um relicário de picardias. Sou ao mesmo tempo brasas e brisas. Eu: coadjuvante de mim mesma; mil personagens desde pequena; sou o perfeito espetáculo a procura do palco...

constâncias

Desculpo-me como se ainda pudesse fazer minhas próprias escolhas ou como se ainda fosse possível não olhar para trás. Porque eu precisei me afastar pra poder continuar por perto, entende? E eu paguei pra ver. Meti os pés pelas mãos; testemunhei o luto pela vitória, fiz o jejum dos esfomeados, assisti o seu “esforço-em-não-achar-tudo-errado” e defendi meus próprios inimigos... Perdi a vergonha como quem não tem nada a perder e me acostumei com essa coisa toda de sempre faltar e nunca caber. Mas a verdade é que eu sempre me importo, porque mesmo parecendo inalterada pelas minhas próprias desculpas, histórias como a nossa não mereciam um ponto final.

cirandas

Eu sempre acreditei na existência da distância. E agora, é engraçado perceber assim tão repentinamente como o tempo passou. Porque já se vão um mês, acredita? E eu não me dei conta de quantas mudanças passaram despercebidas desde que eu cheguei aqui. E isso é quase assustador (...) O tempo passou enquanto eu deixava o ontem na estrada e esticava as madrugadas insones. Enquanto os meus pés decoravam o novo caminho pra casa e a saudade se acomodava no peito. Um mês enquanto eu passava os rascunhos a limpo e adestrava os meus fantasmas internos. Enquanto eu tagarelava incansavelmente só pra não sucumbir no silêncio que denuncia essa ausência que tanto me perturba. Um mês enquanto eu fingia ser inconsequente só pra não lembrar da responsabilidade que é ser sozinha. Um mês enquanto eu simulava não saber o que é timidez e pedia pra estes novos rostos -agora tão corriqueiros- emprestarem seus sorrisos pros meus dias serem mais leves (..)

E agora sim, tudo se ajusta. Já falo com mais naturalidade os pronomes possessivos: minha casa, minha rua, minha cama, minha nova rotina...


Um mês. E o tempo passou enquanto eu brincava de ser adulta.

Adulterada. Adult-errada.

poemas e pétalas

Vez ou outra descuido da guarda e me deparo contigo.
Teus olhos-armadilha recolhendo a confusão dos meus dias. Teu riso tão meu suspenso em um raio de sol.

(...)

E tenho meus lábios se ajustando aos teus, um afeto esperando para existir e desejos que esbarram sem querer nas quinas do peito.
Eu: personagem de mim mesma. Que carrego comigo a timidez dos que não possuem certeza.
E você: credor de um coração negligente. Que faz ser singular aquilo que nos outros é tão comum.

Tão dono de si. Tão dono de mim...

amor-tecer

Eu vi teus olhos a emoldurar um infinito de possibilidades. Tua voz a preencher os detalhes. Teu silêncio a multiplicar minhas palavras (..) A saudade procurando um motivo pra ficar e o coração ritmando uma única certeza: você.

Não olha pra trás. Já foi.

(...)

Minha espera é a tua procura.
Tua fuga é o meu encontro.
E hoje, o imediato é o nosso tempo.

meio-tom

Às vezes sou grata pelo silêncio...
Pelos tempos sem data. Os sorrisos gratuitos. Os lampejos de cor recortando a retina...

É quando descanso meus olhos nos teus.
Quando a gente faz-de-conta. Quando a gente joga contra. Nas periferias do peito...

É quando posso ver o mundo contido num sorriso teu. É quando eu posso escrever um verso em que “você” rima “comigo”

(..)

miscelânea

Lá está ela: O mundo estendido sob os seus pés, o sol como um abraço... Nas veias: uma urgência que sangra. Nos olhos: o constrangimento dos que se entregam à casualidade das falhas. Ela vai pra onde mora a pulsação do mundo. Como quem não quer nada, ela quer ter pra onde voltar.
E o sorriso nos lábios é uma advertência: evidências da luta não há (...)

Vai menina, deixa o teu sorriso transformar o mundo...

até desistir

Fim é mesmo uma palavra condenada por definição. Traída pela semântica, combatida pelos pontos finais. É meu caro... game over, fim de linha, o arranque das despedidas... Não há como negar que todos nós abandonamos alguma coisa ali quando terminou. Nós, que sempre estivemos de mudança. E eu, que sempre quis ir embora e agora estou voltando pra um lugar do qual nunca saí de fato. Então deponho as armas, refaço as malas e levo comigo meu coração-bagagem rumo ao embarque dos desimpedidos. Pois agora eu sei. O futuro é o que sustenta o passado, não é mesmo? E essas fatalidades sempre me parecerão escolhas minhas. Porque agora desamarrar os nós parece tornar os laços mais fortes, entende? E tudo é relativo. E exato. Então eu espero e tudo me aguarda. É hora de provar o doce-amargo que antecede as despedidas.

Vem meu caro, vamos jogar. Os dados foram lançados...

des-espero

Talvez seja tarde para justificativas, embora eu continue sempre parecendo precipitada naquilo que faço. Ou talvez tudo já tenha sido realmente dito ou feito e agora estamos mesmo fadados ao silêncio. Porque as certezas que me chegam, ainda ecoam como uma tristeza. E eu me pego aqui repetindo erros antigos, desgastando as mesmas palavras com desculpas mal formuladas; Equilibrando tudo nos ponteiros do relógio para que o tempo não abrevie os meus devaneios. Entende? É que eu sempre fui dessas egoístas que não sabe dividir o próprio espaço e me vi meio invadida desde que você chegou fantasiado de sutileza, vestido com seus charmes e olhares e perfumes. E possibilidades. E eu só queria te dizer como é ver o mundo refletido nos teus olhos. Só queria que o meu silêncio pudesse dizer tudo o que eu sinto quando você me abraça. Porque nós sempre fomos um casal homogêneo. Apesar dos desencontros, dos desalinhos, das palavras tortas. Nós fomos determinados pela sorte, menino. Você é aquele que perdoa a minha imperfeição nessa desordem que é o mundo. Eu me entreguei a você e nunca me senti tão minha sendo tão sua. E é por isso que você não merece ser uma lembrança triste.

Desfaz esse engano destino...


rodapé

Ainda bem que janeiro está ai. Limpo, benigno. Pronto pra renovar as esperanças, dar anistia aos desacertos, resgatar as coordenadas e reanimar certas coisas que involuntariamente morrem com a chegada do calendário novo...