pois bem

Não durmo há dias e tenho a sensação esquisita de estar morrendo de sono mesmo quando estou dormindo. As horas se agarram nos ponteiros e quase saltam do relógio, insaciáveis, prontas para me devorar. E eu já nem sei mais o que é efeito do sono e o que foi -e é- realmente sonho. Os dias parecem se dividir e com eles eu me divido também. Me divido em tantas e no final termino sendo só mais uma, qualquer uma. Termino entregue a mim mesma, refém do meu próprio crime. Cúmplice da minha própria culpa. É que de repente, isso de não-poder-também me fez tão mais pequena e exposta pro bueiro que é isso tudo entende? E tudo se esgota, tudo pede pelo fim. E eu termino tão mais vulnerável do que isso não me permite ser. E sabe o que é pior? Não são as circunstâncias, as mentiras e todo aquele teatro barato. O pior nisso tudo é conseguir sair ilesa. E essa impunidade ofende mais do que agride. É uma dor superficial. Incomoda, mas não machuca. Mas no fundo, lá no fundo eu sabia que isso ia acabar acontecendo, sempre soube. Eu que sempre pareci tão óbvia e agora ando cheia de farpas (...) E me pego aqui tão sozinha, escondida na madrugada, descendo as escadas feito uma fugitiva para ir chorar com o meu cachorro feito uma criança assustada que precisa do ursinho pra noite se fazer mais amena. E o meu problema, está justamente em querer olhar o que o medo me guarda debaixo da cama (...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário