o atacante do mundo

Dois chinelos demarcavam o gol. Chuteiras ele ainda não tinha, mas os pés descalços já trilhavam um destino. Dia após dia. Passo após passo. 

O chão de terra batida conhecia muitos descaminhos, mas ele não tinha pressa, deixava tudo ao tempo... 


Era um sonhador.  


Ele crescera ali, brincando no fundo da casa, criando asas na companhia dos passarinhos. A bola, já gasta, tinha sido presente da mãe alguns anos atrás. Se lhe perguntassem, talvez não saberia dizer quando a brincadeira deixou de ser apenas um passatempo. 


Em algum momento o sonho cresceu dentro dele. Tomou corpo, alimentou o espírito e ampliou os seus horizontes. 


Aquela bola era a promessa de uma vida melhor. Era a esperança amaciando os olhos das durezas do mundo...


Brincava quase sempre sozinho. Gostava de imaginar que os pés deslizavam pelo gramado macio de um estádio e que a arquibancada lotada ressoava ao longe. Aquele era o seu palco, ali ele era protagonista da sua própria história. 


(...)


O gol, demarcado pelo par de chinelos, parecia lhe encarar. Ele, por sua vez, fitava-o com resiliência. Com a certeza de quem sabe onde quer chegar. 


Aquela era a sua deixa.       


O menino, que também chamava Manoel, não conhecia o poeta, mas sabia que tinha um quintal maior do que o mundo. Isso acontece com aqueles que enxergam com os olhos do coração...


Nenhum comentário:

Postar um comentário